Voltando das Férias:
Estamos numa aceleração do tempo cronológico tão intensa, que nossa antiga percepção do tempo de 24 horas diárias está totalmente alterada.
Nesses meses de fim de ano de 2011 muitos acontecimentos fortes tomaram minha atenção e me trouxeram a uma certa paralisia para escrever.
A escrita para mim, é uma forma não só de me comunicar. Também é uma maneira de processar no meu interior e formatar, trazendo à consciência o que desejo estar partilhando.
Foram tantos acontecimentos, com tanta brevidade para processar que foi impossível sem “criar um tempo vazio” retornar a escrever com autenticidade e presença.
Presença, foi esse ato e reaprendizado que resume o essencial desse período para mim.
Estar presente, um forte desafio nesses momentos nos quais o tempo se move com uma velocidade vertiginosa... a vida na sua impermanência nos mostra que perdemos vida recriando compulsivamente o passado, e-ou lançando-se veementemente para um futuro incerto. Assim vamos perdendo a possibilidade de viver o AGORA, que é o que realmente existe!
Como exercitar a PRESENÇA ?
Tenho repassado aos alunos que me cercam um exercício muito útil que aprendi num treinamento com Thomas Bryson, e ele próprio pelo que relata de seu Mestre de Aikido.
Transcrevo aqui:
Exercício de ESTAR PRESENTE
(Fazer em dupla)
Pessoa 1- Objetivo: se encarregar de auxiliar a trazer o outro (pessoa 2) a uma experiência de realidade presente e um estado de concentrar a atenção.
Pessoa 2- Objetivo: experienciar a Presença.
A pessoa 1 solicita a pessoa 2 de sentar-se confortavelmente com a coluna reta sem apoiar completamente no encosto. Vai solicitar que a pessoa 2 respire e perceba o que vê, sem pensar no que está vendo. A pessoa 2 se estimulará a mater a respiração como fluxo constante e a perceber sonidos e sensações no seu corpo. Nesse momento que a pessoa 1 está nesse nível de atenção, a pessoa 2 coloca a mão no ombro da pessoa 1 (sem cruzar o braço à frente do peito da pessoa 1 e sim de lado) e vai fazendo uma pressão para trás.
Após isso pode-se repetir a experiência estimulando a pessoa 1 a sair do presente colocando-se numa experiência de passado (ruim e-ou boa) e tirando ela da presença, como acontece normalmente com a nosso cotidiano mental. Vai se exercendo a pressão e a pessoa 1 se moverá para trás com maior facilidade.
Poderá assim concluir que fora da Presença terá menos EMPODERAMENTO da sua força e fica mais frágil.
É importante revezar a posição entre 1 e 2 para ambos terem a experiência.
Parece-me que a possibilidade de estar no hoje, aqui e agora, que tanto nos sugerem os Mestres das diversas orientações espirituais Orientais, é a chave de nossa capacidade de EMPODERAMENTO de si mesmo na vida.
Nesse período que tantos acontecimentos desestabilizadores de diferentes tipos como: morte de amigos queridos, diagnósticos de doenças graves e crônicas de outros amigos queridos, reformulação profunda de vínculos, até de foco profissional, mudanças estruturais familiares sucederam na minha vida, em apenas alguns meses cronológicos, pude vivenciar a veracidade desse ensinamento.
Vem na minha mente um exemplo claro do que estou falando:
Recebo um telefonema de uma amiga avisando que seu marido estava hospitalizado. Acostumava chamar ele de “meu Viking preferido”, originário da Suécia, pois era extremadamente positivo perante as lutas com sua saúde e vencedor pertinaz da dor, criado na Argentina, também gostava de deliciar-se com um mate (chimarrão).
No momento que me preparava para ir vê-lo, apesar do agito de localizar o endereço, preparativos para não errar o caminho, etc. num momento parei e conectei, que poderia levar a meu amigo naquela visita que o oferecesse um certo prazer ou alegria? Surge com clareza o pensamento de levar um chimarrão! Assim o fiz e me deleitei com ele, assistindo seu prazer. Um ritual simples que temos os rio-platenses e que nos traz a “roda dos amigos” ao papo leve e alegre e singelo, a união em volta de um propósito, tomar mate e conversar!
Foi um sábado, dois dias antes de sua passagem. Foi a última vez que nos vimos e talvez aquela que recordarei com maior presença “tomando mate” com amigos.
